terça-feira, 15 de julho de 2008

SEMINÁRIO: ZIRALDO

Por Juliana Matheus Pires

Ziraldo – Breve Biografia

Ziraldo Alves Pinto nasceu em Caratinga, no interior de Minas Gerais, em 24 de outubro de 1932. Seu nome único vem da combinação do nome de sua mãe Zizinha com o nome de seu pai, Geraldo.

Passou a infância em Caratinga, onde cursou o Grupo Escolar Princesa Isabel. Em 1949, foi com o avô para o Rio de Janeiro, onde cursou dois anos no MABE (Moderna Associação de Ensino).

Em 1950, voltou para Caratinga para fazer o Tiro de Guerra. Terminou o Científico no Colégio Nossa Senhora das Graças. Formou-se em Direito na Faculdade de Direito de Minas Gerais em Belo Horizonte, em 1957.

No ano seguinte, casou-se com D. Vilma, com quem tem três filhos, Daniela, Fabrizia e Antônio, e seis netos.
Sua paixão em desenhar surgiu quando ainda era muito garoto. Em entrevista ao programa Itajubá em Foco, Ziraldo afirma que com cinco ou seis anos já se considerava especial por desenhar. Desenhava em todo lugar. Outra paixão que surgiu na infância foi a leitura.
Ainda com seis anos, ganhou um gibi de um jornaleiro na rua e diz que, ao abrir o gibi entendeu tudo, pode adivinhar seu destino. Após isso, seu pai passou a comprar muitos gibis e a incentivar o talento do menino. Ziraldo publicou, ainda nessa idade, seu primeiro desenho no jornal A Folha de Minas Gerais.
Sua carreira começou com colaborações mensais para a revista Era uma Vez. Trabalhou em grandes revistas e jornais como O cruzeiro, Jornal do Brasil, Folha de Minas, etc.
Nos anos 60, começou a ficar famoso com o lançamento da revista em quadrinhos A Turma do Pererê.

Durante a Ditadura Militar, fundou com outros humoristas O Pasquim - um jornal não-conformista. Seus quadrinhos para adultos, especialmente The Supermãe e Mineirinho - o Comequieto, também contam com uma legião de admiradores.

Tornou-se escritor infantil aos 47 anos, com a publicação de Flicts. Em entrevista, Ziraldo confessa que se sentia muito inseguro com as palavras. Disse que ele sabia dizer se um desenho estava bom, mas não sabia dizer o mesmo de um texto. Ele afirma ainda ter caprichado muito nas palavras nesse seu primeiro livro. Ficou lisonjeado quando o poeta Carlos Drummond de Andrade disse que Flicts era um poema exato:
“Puxa, eu fiquei muito metido quando ele, o grande poeta Carlos Drummond de Andrade, disse isso "
A partir de 1979, Ziraldo passou a se dedicar quase que exclusivamente à literatura infantil. Em 1980, lançou O menino maluquinho, seu maior sucesso, que lhe rendeu muitos prêmios e foi um dos maiores fenômenos editoriais de todos os tempos no Brasil.
Hoje, Ziraldo afirma que prefere escrever a desenhar. Diz que a literatura infantil que produz é resultado de toda sua vida, do que aprendeu, do que desenhou e do que sofreu.

O Menino Mais Bonito do Mundo

O livro O Menino Mais Bonito do Mundo foi publicado pela primeira vez em 1983 e integra a coleção Mundo Colorido. O poema narra o encantamento de um menino diante da criação da natureza. O menino torna-se adulto e no desfecho, ficamos sabendo que o menino mais bonito do mundo é Adão.
O autor utiliza uma linguagem simples, mas muito mágica. Ziraldo diz em uma entrevista concedida para o programa Itajubá em Foco, que assim como diz Millôr Fernandes, ele escreve para o seu leitor mais inteligente, mesmo quando está escrevendo para criança. Afirma não fazer concessão. Utiliza-se de linguagem simples, frases com clareza, limpidez e ordem direta, mas que se tiver uma imagem de difícil compreensão ele não a retira, deixa lá e sabe que a criança vai acabar por entender.
Nessa mesma entrevista, Ziraldo diz que o que vem primeiro em seu processo de criação é sempre o texto. Diz que primeiro escreve e só depois passa a se preocupar com as ilustrações.
Diferente da maioria das obras de Ziraldo, esse livro não é ilustrado por ele. Conta com ilustrações especiais em óleo de Sami Mattar e desenhos de uma menina de apenas nove anos, Apoena Horta G.Medina.
A maneira como essas ilustrações conversam com o texto é bastante interessante.
Luis Camargo propõe a subordinação da imagem frente à matriz verbal, amparadando-se em estudos semânticos e estilísticos. Realiza assim a transposição das figuras de linguagem a uma proposta de retórica visual.

A relação entre texto e a ilustração que o acompanha será, para Luís Camargo, denominada de coerência intersemiótica que se dá em um jogo entre significados denotativos e conotativos, em três diferentes graus: convergência, desvio ou contradição entre palavra e imagem.
Adotando essa classificação, o texto e a ilustração de O menino Mais Bonito do Mundo apresentam grande convergência. As paisagens narradas no texto são quase que minuciosamente retratadas nas ilustrações de Mattar e nos desenhos de Apoena, dentro dos limites, considerando as diferenças entre as linguagens verbal e visual.
Outras características da ilustração de O Menino Mais Bonito do Mundo são as diferenças e semelhanças entre os desenhos da menina Apoena e as telas de Mattar.
Na primeira parte do livro, o texto narra as primeiras impressões de um menino diante da criação dos elementos da natureza.

O autor retrata o maravilhamento desse menino ao ver todas as coisas pela primeira vez. A ilustração dessa parte do poema é feita pelos desenhos da menina. São desenhos de uma criança de dez anos, de grande qualidade artística, mas com traços infantis.
Quando no texto, o menino vira adulto, as ilustrações passam a ser as telas do artista gráfico Sami Mattar. As paisagens se repetem, porém agora, com a maturidade de um adulto e as qualidades de um artista plástico.


Além do Rio – linhas gerais

A obra Além do Rio foi publicada pela primeira vez em 1987, também como parte integrante da série Mundo Colorido da Editora Melhoramentos.
Escrito e totalmente ilustrado por Ziraldo, o livro faz uma viagem da nascente do rio Amazonas até chegar ao mar.
A relação entre o texto escrito e as ilustrações é tão forte que chega a ser de dependência. É como se os elementos visuais e textuais não pudessem ser lidos separadamente. O texto aponta o tempo todo para a imagem ilustrada, fazendo, inclusive, uso de pronomes demonstrativos: “Esta é uma cadeia de montanhas […]” “Aos pés destas montanhas”, etc.
Da mesma forma, as imagens não podem ser compreendidas sem o texto. São figuras geométricas, bastante coloridas, que tomam forma e significado em contato com o texto.


Bibliografia

ZIRALDO, (Alves Pinto). O menino mais bonito do mundo. Ilustração complementar de Sami Mattar e Apoena Horta G. Medina. São Paulo: Melhoramentos, 1983.

ZIRALDO, (Alves Pinto). Além do Rio. São Paulo: Melhoramentos, 1987

CAMARGO, Luís. Ilustração do livro infantil. Belo Horizonte: Lê,. 1995.

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