sábado, 10 de maio de 2008

SEMINÁRIO: CHAPEUZINHO VERMELHO

As diversas faces de Chapeuzinho Vermelho

O conto anônimo foi discutido pelo viés psicanalítico por estudantes da USP

Por Adriane Piscitelli

A terceira mesa redonda foi apresentada com as alunas Ana Carolina Sá Teles e Daniela Duarte, além da participação especial da aluna norueguesa Stina Jensen. Fabiana dos Reis Marchiori e Marina Prado Sasao irão debater na próxima semana. As discussões se deram em torno do conto Chapeuzinho Vermelho.
Stina Jensen, aluna norueguesa e estudante da Universidade de São Paulo, abordou a questão dos contos de fada de sua terra natal, Noruega. Explicou o nacionalismo exacerbado presente em tais contos, assim como a presença forte da natureza e a visão da cidade como um lugar pejorativo. A relação demonstrada nesses contos é de importância política, devido à independência do país. Os contos são de histórias que vieram com a questão da oralidade, mas que acabaram se baseando ou se fixando em questões nacionais. São diversos tipos de contos de fadas e muitos deles com criaturas sobrenaturais. A moral e os valores vigentes estão voltados para a questão da pureza do homem, da sua bondade, esperança, tudo isso ligado ao otimismo e à autoconfiança individuais.
Daniela Duarte foi a primeira a apresentar as múltiplas versões da Chapeuzinho Vermelho. Abordou a questão das adaptações para os diversos públicos leitores e épocas. Em Perrault fica a dúvida entre a questão sexual e canibal da palavra “comer”. Nos Irmãos Grimm, aparece o caçador como herói da trama e o lobo que morre agonizando. A aluna também citou várias outras versões nacionais como a de Ângelo Machado, Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Guará; de Dionísio da Silva, A melhor amiga do lobo; de João de Barro; de Mauricio de Souza, nos quadrinhos; de Guimarães Rosa, Fita verde no cabelo; de Chico Buarque de Hollanda, Chapeuzinho Amarelo, entre outras.
Ana Carolina Sá Teles mostrou a questão psicanalítica da Chapeuzinho Vermelho entre Perrault e os Irmãos Grimm, interpretada por Bruno Bettelheim, psicanalista que segue a linha de Freud. Em Perrault, a versão que leva o nome de Capinha Vermelha, foi escrita para a corte de Versailles em 1697, há uma importância histórica em sua obra, pois ele sistematiza uma moral criada, a de que as crianças não podem sair do caminho correto. Já nos Irmãos Grimm, versão de 1812, a Chapeuzinho é realmente enganada, porque a mãe adverte a menina para que não saia do caminho. O questionamento aqui não se dá no âmbito sexual, como em Perrault.
A aluna apresenta a visão de Bettelheim nos contos, que resumem que a questão fantasiosa é justamente para discutir os problemas das crianças; os contos acabam evocando problemas existenciais para a criança-leitora, que escolhe entre o caminho que preferir, não há apontamentos entre o certo e o errado. Para Bettelheim, as obras lidam com a integração da personalidade das crianças (id, ego e super-ego). Teles apresenta que o psicanalista prioriza a versão dos Irmãos Grimm.
Ao final, a aluna Juliana Pádua nos mostrou as ilustrações de Susanne Janssen no livro dos Irmãos Grimm e a denotação sexual dos símbolos fálicos presentes nos desenhos, tais como o chapéu que lembra ao mesmo tempo uma maçã e o lírio-da-paz que denotam sexualidade. Além da Chapeuzinho aparecer de batom na maioria das vezes.
Na próxima semana, Fabiana Marchiori e Marina Sasao darão continuidade à questão da Chapeuzinho Vermelho, além de estudarmos a questão da mulher na Condessa de Ségür.




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