sábado, 10 de maio de 2008

SEMINÁRIO: IRMÃOS GRIMM - ANDERSEN

Perrault, os Irmãos Grimm e Andersen são tema do segundo debate


O tema da segunda mesa redonda foi a transfiguração literária dos valores ideológicos românticos nos contos dos Irmãos Grimm e do dinamarquês Andersen

Por Adriane Piscitelli

A segunda mesa redonda da aula de Literatura Infantil e Linguagens do Imaginário na USP ficou em torno de Charles Perrault (1628 - 1703), dos Irmãos Grimm – Jacob Grimm (1785 – 1863) e Wilhelm Karl Grimm (1786 – 1859) e de Hans Christian Andersen (1805 – 1875), abordados pelos estudantes Monise Fernandes Picanço, Sandra Correia Lima Leal e Wesley Camargo da Silva.
Monise Picanço foi a primeira a apresentar; como aluna do curso de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, ela abordou questões teóricas sobre a obra de Perrault. Tratou do contexto histórico da época da escrita, como sendo o absolutismo e o classicismo. Além de comentar a respeito dos contos anônimos da tradição oral, como Chapeuzinho Vermelho e A Bela Adormecida.
Picanço citou teóricos que discutem o caráter cristão presente nos contos de Perrault, porém ela discorda absolutamente dessa visão, para tanto, comenta o rito de antropofagia em Chapeuzinho Vermelho, sendo muito mais pagão do que de moral cristã. Ela comenta que os Irmãos Grimm abolem a abordagem negativa de Perrault. Nos Irmãos Grimm existe o “felizes para sempre”, já em Perrault, n’A Bela Adormecida, a rainha quase come os filhos e a própria bela.
A transculturação também foi mencionada como caráter da obra de Perrault, ou seja, as narrativas são recortadas e retecidas pela contemporaneidade. Ao final, a aluna ilustrou seu debate com uma série de imagens da coleção The Briar Rose de Edward Burne-Jones, artista do século XIX que propõe a visão romântica d’A Bela Adormecida nas artes plásticas.
Sandra Leal apresentou, tanto nos Irmãos Grimm, quanto em Andersen, os valores ideológicos românticos transfigurados literariamente. Nos Irmãos Grimm, a criança é tida “como centro de uma sociedade patriarcal”, ressaltam-se ideais românticos, como o predomínio de valores humanistas e de valores cristãos. Leal utiliza como exemplo as obras João e Maria, O pequeno polegar, Branca como a neve, Cinderela e Chapeuzinho Vermelho. Em Andersen, ela destaca as mesmas características dos valores românticos, porém sob o contexto da expansão industrial e a nova classe burguesa ascendente, para isso, cita as obras Pequena vendedora de fósforos, Soldadinho de chumbo, A pastora e o limpador de chaminés, O velho lampião da rua e a Sereiazinha. Os valores românticos presentes nos contos são, entre outros, a defesa dos direitos iguais, a ânsia pela expansão do “eu”, os valores cristãos e a exaltação das raízes do povo.
O terceiro e último aluno a discutir seus pontos foi Wesley da Silva, aprofundando a somatória do conteúdo e da forma de obras que Picanço e Leal comentaram. Para tanto, Silva se baseou em autores como André Jolles e o Professor José Nicolau Gregorin Filho, nas respectivas obras, Forma simples e A roupa infantil da literatura. Esta obra apresenta um contrato entre o enunciador (escritor) e o enunciatário (criança), já aquela, discorre a respeito da construção do texto a partir da estética, do contexto histórico e da morfologia.
Silva comentou a respeito dos símbolos e figuras, como material folclórico nos Irmãos Grimm, e o cunho popular dos contos de Perrault. Já em Andersen, há a soma do real com o mágico, tornando a característica principal dos contos a sobrenaturalidade dos mitos. O aluno diferenciou a questão do fantástico e do maravilhoso, com base em Todorov, comentando que o maravilhoso começou a se inserir no universo infantil a partir do século XVIII com a visão racionalista do mundo dos adultos. Ao final, cita Nelly Novaes Coelho que resume o “símbolo como concretização de uma idéia abstrata”, além de falar do propósito educacional do conto, como referência de La Fontaine.
Na próxima semana veremos o caráter psicanalítico nas análises de Chapeuzinho Vermelho.

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