sábado, 10 de maio de 2008

SEMINÁRIO: PANCHATANTRA - CALILA E DIMNA - AS MIL E UMA NOITES

Alunos da USP discutem Panchatantra, Calila e Dimna e As mil e uma noites

As fontes inaugurais foram assunto do primeiro debate promovido pela disciplina Literatura Infantil e Linguagens do Imaginário da USP

Por Adriane Piscitelli

Começaram as inscrições para o ciclo de debates movido em torno da Literatura Infantil e Linguagens do Imaginário. O evento é produzido pelos alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo junto com a Professora Maria Zilda da Cunha, do departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da faculdade.
Na última quinta-feira, 3 de abril, as alunas Cristiane Penha, Luana Souza, Patricia Rodrigues e Sabrina Aragão apresentaram a primeira mesa redonda com discussões a respeito das fontes inaugurais da Literatura Infantil. Os seminários foram seguidos de debates com os estudantes Aline Tafner e Danilo Faloppa.
A primeira apresentação foi feita pela estudante Luana Souza, em que discorreu sobre a obra Panchatantra, da qual deriva Calila e Dimna, considerada a fonte mais antiga da literatura infantil. Logo no início, foi mencionada a escritora e Professora Titular da USP em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, Lucia Pimentel Góes, que em suas críticas literárias já expôs a respeito da lição de moral presente em Panchatantra. Segundo Souza, Panchatantra é a antiga coleção de fábulas indianas, dividida em cinco tratados, que na verdade são cinco livros apresentados em sânscrito pelo brâmane Vishnuchaman. A obra possui o caráter de fábula, em que as narrativas são feitas com animais, contendo normas de conduta política para o príncipe e uma lição de moral ao final de cada história.
Já Calila e Dimna, adaptada para o árabe pelo persa Ibn Al-Mukafa por volta do século VIII d.C., são, na realidade, os nomes dos chacais da fábula que inicia o Panchatantra. O livro remete às obras do Panchatantra, de Mahabharata e de Vischno Sarna. São 14 livros que faz um encadeamento de fábulas, tratando da sabedoria humana.
Cristiane Penha examinou mais profundamente Calila e Dimna. Ela apresentou de forma bem clara e atual, quando associou que a obra se compõe como "hipertextos", ou seja, uma história remete a outra e assim por diante. Penha discutiu o propósito do livro, em que a eloqüência, a sabedoria e a diversão constituem a intenção primeira das fábulas.
O ponto alto da discussão foi a apresentação das mil faces d’As mil e uma noites, exposta pela aluna Sabrina Aragão. Sua exibição contou com a comparação da obra com o cinema. Aragão mostrou dois filmes da década de 1940, em que a história é bastante diferente, como, por exemplo, o gênio é uma mulher e se apaixona pelo Aladim. O filme As mil e uma noites (Il fiore delle mille e una notte), de 1974, do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini também é uma releitura da obra original, abordada sob temática erótico-satírica. Por fim, o desenho do Walt Disney, Aladim exibe o protagonista como sendo pobre, órfão e sem condições para trabalhar. Na obra original, por outro lado, Aladim é desobediente, vagabundo e não é órfão.
O segredo d’As mil e uma noites, livro de Michel Gall foi utilizado como fonte para a aluna Patricia Rodrigues em seu debate. Ela enfatizou o fato de todas as obras possuírem três elementos determinantes para sua realização, ou seja, é necessário conter elementos históricos, que contextualizem o momento em que a obra foi escrita; elementos alegóricos, que sinalizem o caráter das personagens envolvidas e, finalmente, elementos ideológicos, que demonstram o ponto de vista do autor.
O debate posterior às apresentações ficou em torno das histórias da Sherazade e da questão da mulher presente tanto em Calila e Dimna, quanto em As mil e uma noites. Aline Tafner comentou a respeito das mulheres adúlteras e não são dignas de confiança que aparecem nas obras acima mencionadas. Ao mesmo tempo em que Sherazade é diferente de todas essas mulheres, confirmando que "quando as mulheres querem alguma coisa, não há nada que as impeça". Danilo Faloppa comentou o livro de Paulo Sérgio Vasconcellos sobre As mil e uma noites, em que há apenas uma história, enquanto no livro do Professor Mamede Mustafa Jarouche, traduzido do árabe para o português, há quatro contos.
A primeira mesa de discussões foi um sucesso, aguardaremos as próximas às quintas-feiras com os alunos da Professora Maria Zilda.

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