segunda-feira, 16 de junho de 2008

SEMINÁRIO: CECÍLIA MEIRELES E MÁRIO QUINTANA

Primeira Mesa Redonda – 03/04: Cecília Meireles (Ou Isto ou Aquilo, Cânticos) e Mário Quintana (Sapato Furado, Nariz de Vidro)

Mediadoras: Beatriz Pistinizi e Daniella Bonança

O curso de Literatura Infantil e Juvenil: Linguagens do Imaginário III, oferecido pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo conta, em seu programa, com a realização de diversas mesas-redondas nas quais se propõe a apresentação de obras poéticas direcionadas ao público infantil e a discussão sobre os diversos aspectos nelas encontrados.

A primeira mesa redonda, apresentada no dia 03 de abril, abriu caminho para uma fervorosa discussão a respeito da literatura infantil produzida por Cecília Meireles e Mário Quintana: até que ponto uma poesia pode ou não ser dirigida para o público infanto-juvenil? A proposta lançada pelas mediadoras a respeito desse tópico no debate mostrou a dificuldade encontrada para se chegar a um consenso a respeito do assunto:

“Poderá surpreender o leitor adulto o fato desse poema estar incluído em livro com destinatário mirim. É exatamente essa possibilidade de o texto transitar da dúvida cotidiana à dúvida existencial que revela o respeito à inteligência infantil. Adultos e crianças estão continuamente tomando decisões, e delas, muitas vezes, decorre mudança radical em seu destino. Por outro lado, a visão apresentada aponta para a totalidade? Afinal, por quê escolher?”

Beatriz Pistinizi e Daniella Bonança, expositoras e mediadoras do debate, propuseram uma análise contrastiva de dois dos poemas dos autores: O Adolescente, de Mário Quintana, e Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles. Enquanto o primeiro poema, apresentando características modernistas pela forma e sonoridade livres, tratava da questão do amadurecimento da criança e do jovem e do medo que ele tem ao se deparar com a necessidade de exploração de novos horizontes, o segundo, apresentando uma forma regular e diversas rimas, tem como tema a escolha, as concessões e as conseqüências a que nos submetemos ao efetuá-la. Todo o jogo de palavras do poema de Cecília e seu encadeamento lógico, bem como as ricas imagens do poema de Quintana, demonstram uma valorização da capacidade de raciocínio dos leitores a que as obras são dirigidas.

As dificuldades começaram já na primeira questão: os livros selecionados foram publicados em 1964, e isso chamou a atenção dos debatedores, abrindo caminhos para uma discussão sobre até que ponto o contexto histórico importa ou influencia numa obra. O primeiro a questionar tal fato foi Eduardo Barchiesi:

“Acho que estamos supervalorizando essa questão de contexto histórico, afinal essa é uma visão nossa, atual, não da época!”

Afinal, teria ou não importância o contexto no qual a obra se insere no que diz respeito à literatura infantil?
Evidentemente não existe uma resposta concreta e exata para tal questão.O que se pode analisar aqui é o poder de influência que essas obras têm sobre o publico infantil, pois é certo que os poemas analisados são escritos visando o público mirim, mas esse não é visto mais como um “adulto em miniatura”. Aqui a inteligência da criança é levada muito em consideração, inclusive seu poder de escolha diante da vida.
Cecília propõe escolhas do tipo: brincar ou estudar? Guardar o dinheiro ou comprar um doce? Subir aos ares ou permanecer no chão? Afinal,

“É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo m dois lugares”.

(Ou isto ou aquilo, Cecília Meireles)

Desse modo, o recado que a autora parece querer passar às crianças e aos jovens é que eles têm o poder de escolher o que desejam fazer, é como se dissesse: “ Jovem decida o que fazer, escolha seu próprio caminho e siga por ele”. O jogo entre os termos “ou...ou” (como se fosse um jogo de pular cordas) parece remeter perfeitamente à esse fato.
Mas há ainda uma outra possibilidade, e quem levantou tal hipótese foi Daniela Ortega:

“Cecília talvez queira dizer à criança que ela não precisa se ater ao que é melhor o tempo todo, pois não necessariamente existem coisas melhores que as outras”.

Já poema de Mário de Andrade não deixa margem para tal hipótese, ao contrário, ele deixa claro no poema em questão que a escolha realmente é de cada um. Mário parece dizer ao seu público: “faça escolhas ‘vestido apenas com o teu desejo’”.

Um comentário:

Unknown disse...

A arte de narrar estórias é uma forma quase artesanal de comunicação. Desde os primórdios da expressão verbal a tradição era transmitida oralmente.

Com o apoio das narrativas orais, passadas de geração à geração, surgiu a Literatura Infantil.

O gênero da Literatura Infantil é, ainda, o que mais guarda proximidade à tradição oral e por isso encanta, não somente crianças e jovens, mas também adultos que relembram seus momentos de ouvintes das experiências humanizadoras.

Entretanto, o grande problema enfrentado atualmente é a falta de tempo e espaço para se contar e ouvir estórias, seja em rodas ou no convívio familiar.